A fronteira entre o bom humor e o reforço de preconceitos

o bom humor e o reforço de preconceitos

Principal grupo de risco na pandemia do novo coronavírus (Covid-19), as pessoas idosas são o centro das atenções na defesa de cuidados, os quais não se restringem a eles. Pela dificuldade em aderir ao pedido para ficar em casa, muitos são considerados “teimosos”.

Mas, o pedido para ficar em casa não é feito diretamente para os idosos, e sim para quem tem o dever do cuidado. Situações que fazem dos idosos alvo de brincadeiras e piadas de mau gosto. É o reforço do preconceitos.

Claro que é preciso manter o bom humor em tempos tão difíceis de isolamento social, mas a linha é tênue entre o que é engraçado e o reforço do preconceitos e infantilização de quem tem uma história de vida construída em 60 anos de existência ou mais. O texto de uma dessas piadas é “Atenção ‘crianças’ acima de 60 anos! Tem um carro preto no bairro pegando idosos pra fazer sabão! Não saiam de casa!”.

Há ainda o “Busca Véio”, o “Cata Véio”, manifestações que fizeram com que a Associação Brasileira de Gerontologia (ABG) divulgasse uma nota pública de repúdio. Segundo o texto, “apesar de ser imperativo manter o isolamento para a superação da pandemia, a discriminação etária não deve ser o preço para o atingimento da mesma”.

Para a entidade, “diversos ‘memes’ e postagens reforçam mitos e estereótipos contra pessoas idosas, como velho teimoso, velho como ônus social e a infantilização da velhice.

Até mesmo o uso do ‘véio’ reforça a ideia corriqueira depreciativa do termo velho, atrapalhando os esforços para a mudança cultural que promova o respeito à pessoa idosa”.

Portanto ficar em casa neste momento beneficia a todos e de todos deve ser cobrado a permanência se assim for possível. A cada um deve ser exigido a sua responsabilidade e ao idoso também, de forma direta e clara.

O Estatuto do Idoso garante no inciso 3 do artigo 10 e coloca como dever de todos: “zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

E no inciso anterior ainda ressalta o direito ao respeito e a preservação da imagem, da identidade e da autonomia. Então vamos fazer nossa parte para a garantia de direitos.

Velho é o outro

Outro problema deste momento que também esbarra na questão do respeito à pessoa idosa, é achar que velho é só o outro. Se você passou dos 60 anos pelo Estatuto do Idoso também é idoso e está no grupo de risco, precisa dos mesmos cuidados e proteção que recomenda e exige dos demais. Isso vale para qualquer um, seja um grande empresário ou gestor público.