A pandemia de Covid-19 escancarou o preconceito contra a população idosa e as desigualdades sociais, com que sempre convivemos, mas que nem sempre fizemos questão de realmente enxergar. O distanciamento obrigou a inclusão digital de muitos idosos, mas não são todos que têm acesso a dispositivos e internet de banda da larga com capacidade para esta integração forçada pela pandemia.
O drama atinge todas as gerações. Não está vinculado à idade, mas às condições sociais e até ao endereçamento postal, como ouvi outro dia do professor Egídio Dórea, coordenador da USP 60+, que está lançando o livro “Idadismo – Um mal universal pouco percebido”, pela Editora Unisinos.
Ou como disse Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-Brasil) e referência mundial em envelhecimento e longevidade na abertura do Maturifest 2020, festival sobre longevidade, trabalho e empreendedorismo 50+, realizado totalmente online no início de julho: “um smartphone na mão e um pé no esgoto”, referindo-se à falta de saneamento básico.
Assim como muitos idosos excluídos digitalmente mesmo antes da pandemia, há milhões de estudantes que não conseguem acompanhar aulas virtuais, escolas sem estrutura, ou ainda daqueles que buscam alternativas para se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Gerações que vão envelhecer em meio às desigualdades.
Claro que há iniciativas regionais importantes, como a parceria feita pela Coordenadoria de Políticas para a Pessoa Idosa, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, com o aplicativo Cérebro Ativo para que idosos tenham aulas gratuitas online para estímulo da memória e cognição. Porém, os desafios são muito maiores e praticamente impossíveis de serem vencidos sem que haja diálogo e uma união de força entre governos federal, estaduais e municipais e a sociedade de forma geral.
Neste cenário, é difícil dizer quais direitos o distanciamento social sem inclusão digital viola, segundo o Estatuto do Idoso, já que afeta a participação na vida familiar e comunitária, isola, e em tempos de telemedicina, o acesso à saúde é cada vez menos universal e igualitário. Políticas públicas eficientes são fundamentais, assim como tirar do papel o que a legislação já garante.