A Economia da Longevidade e o Consumidor Sênior

Que o mundo está envelhecendo nós já sabemos.

Que as crianças dos países desenvolvidas nascidas hoje poderão ultrapassar os 100 anos não é nenhuma novidade.

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Entretanto, o que ainda precisa ser amplamente divulgado, e interiorizado nas mentes de empreendedores e de toda a sociedade, é a importância que o Consumidor Sênior e a Economia da Longevidade representam.

De segmento desprezado da sociedade, a pessoa idosa se tornou parte extremamente importante e vibrante da economia.

Economia da Longevidade: “O maior mercado do século XXI”

Trata-se do maior mercado do século XXI” e a terceira área mais estratégica da economia mundial.

Para além de nos sentirmos jovens, transformamos a nossa longevidade em um ativo para a sociedade na medida em que demandamos mais produtos e serviços, que nos proporcionem dias cada vez melhores. Esta nossa dinâmica fomenta a expansão de diversos setores do mercado.

Agora é fundamental que se construa um novo entendimento das realidades fisiológicas, cognitivas, sociais, familiares e psicológicas do público sênior. 

Mercado Sênior e crescimento do PIB

A fortaleza existente neste segmento de mercado é tão patente que já fez países como a China, Japão, Austrália, Holanda, França e Irlanda estabelecerem uma estratégia de desenvolvimento para a economia da longevidade, assumindo-a como um dos pilares estratégicos do crescimento do PIB – Produto Interno Bruto.

Igualmente na União Europeia, é uma área de especial importância, a merecer recomendações para investimentos estratégicos, tendo em vista o impacto que causa no PIB de seus estados-membros (seja em déficit como na geração de receitas).

Segundo estimativa do Bank of America Merrill Lynch (banco de investidores e de serviços financeiros), o mercado mundial relacionado às pessoas mais velhas movimenta, hoje, nos Estados Unidos, cerca de US$ 7,1 trilhões ao ano, a justificar a sua colocação como a terceira maior atividade econômica do mundo.

Economia da Longevidade como política pública

A Economia da Longevidade surgiu no final da década de 70, no Japão, com o nome “silver economy”.

Segundo o Professor Doutor Jorge Félix. O Japão, por ser uma nação muito mais envelhecida, logo houve a percepção da formação do novo mercado”.

Jorge Félix foi o primeiro pesquisador brasileiro a estudar a “Economia da Longevidade“. Doutor em Ciências Sociais e mestre em Economia Política (PUC-SP), é também professor de Gerontologia da Universidade de São Paulo, pesquisador (CNPq) e especialista em envelhecimento populacional.

Em seu livro Viver Muito, de 2011, Dr. Jorge possibilita ampliar-se a visão sobre o envelhecimento, destacando-se as consequências desse fenômeno e os desafios socioeconômicos que se apresentam para um Brasil cada vez mais envelhecido. Para o pesquisador, o Brasil ainda necessita da criação de uma estratégia que envolva todos os participantes do setor, como acontece em países europeus.

O governo francês, exemplifica o Professor Félix, fundiu o Ministério da Indústria e da Ação Social para que as tecnologias pudessem estar mais próximas das áreas acadêmicas, a favorecer o mercado da longevidade.

A França foi o primeiro país a considerar a Economia da Longevidade e o Consumidor Sênior pois institucionalizou a economia da longevidade como política pública.” 

O mercado deve saber o que nós realmente queremos e precisamos

Demonstrar o que os idosos realmente desejam e destruir mitos sobre o envelhecimento, são apenas alguns dos enfoques de Joseph F. Coughlin, em sua obra The Longevity Economy, Unlocking the World’s Fastest-Growing, Most Misunderstood Market. Neste livro, Coughlin fornece elementos para que líderes de negócios atendam a ambiciosa e desafiante população sênior.

Cada vez mais a contínua ambição individual e profissional do idoso, o seu desejo por novas experiências e a sua busca por autoatualização constante, estão construindo uma visão surpreendente e inédita de uma vida mais longa que poucos empresários conseguem entender. 

Joseph F. Coughlin, PhD, é fundador e Diretor do Massachusetts Institute of Technology AgeLab. Coughlin é uma das 100 pessoas mais criativas do mundo segundo a Fast Company Magazine. O Wall Street Journal o nomeou um dos 12 pioneiros dos Estados Unidos que trataram sobre o futuro da aposentadoria e do envelhecimento.

Mas, afinal, o envelhecimento global é uma oportunidade ou um problema?

Do ponto de vista governamental, o envelhecimento da sociedade é prejudicial para a saúde econômica de um país, uma vez que reduz a mão de obra e aumenta os encargos para os sistemas de saúde pública. Tal é a verdade, que na reunião de 2019, do G20, no Japão, o envelhecimento foi sido incluído na pauta de prioridades. Naquele congresso, o governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, disse que o envelhecimento da população pode representar “sérios desafios” para os bancos centrais.

Da mesma forma, em relatório recente das Nações Unidas foi destacado que o envelhecimento global traria “pressões fiscais nas próximas décadas, em face da manutenção de sistemas públicos de saúde, pensões e proteção social para os idosos.”

Entretanto Joseph F. Coughlin, acredita que, embora as populações estejam envelhecendo em números significativos, a ideia de “velhice” não deve permitir que se reprimam as oportunidades econômicas. Ele argumenta que a velhice é uma construção social que não reflete realisticamente como as pessoas vivem após a juventude. Diz:

as empresas devem oferecer o que as pessoas mais velhas realmente querem e não o que a sabedoria convencional sugere que elas precisam.”

Não se trata apenas de construir carros para idosos”, diz Coughlin. Mas da criação de serviços de diversão, moda, turismo e viagens agradáveis. “É sobre não ser velho. Os mais velhos buscam coisas mais personalizadas, mais focadas no bem-estar, e que facilitam a vida”, complementa o citado professor.

Embora haja pouca pesquisa disponível sobre a economia da longevidade, o que está claro é que, se as empresas conseguirem aproveitar essa base de consumidores, isso pode significar grandes oportunidades de negócios. Afinal, o grupo etário das pessoas mais velhas é consumidor nato.

O Consumidor Sênior e a sua importância para a Economia da Longevidade

Um relatório da KPMG de 2017 sobre consumidores online em 51 países revelou que os baby boomers gastam mais por meio desse canal – uma média de US$ 203 por transação – em comparação com os millennials, conhecidos como “nativos da tecnologia”. Este último grupo é o que menos gasta, com uma média de US$173 por transação.

Atualmente, o maior mercado para a “economia de longevidade” é o Japão, a nação que mais rapidamente envelhece no mundo.

A cultura japonesa moderna adaptou-se às necessidades diárias da sua população envelhecida, e implementou ideias que envolvem desde pequenas conveniências, como, por exemplo, o fornecimento de óculos nas agências dos correios, bancos e hotéis para facilitar ao idoso a leitura de letras pequenas, até grandes soluções estruturais nas cidades, como a colocação de botões especiais nas faixas de pedestres os quais, quando pressionados, permitem mais tempo para o idoso atravessar a rua.

A produtividade dos trabalhadores mais velhos é o “dividendo da longevidade”

Uma grande triunfo da atual longevidade, associado ao excelente nível de saúde que o público mais velho conquistou, é a liberdade de poder trabalhar.

Quando os trabalhadores vivem vidas mais saudáveis e mais longas, surge o que a empresa de consultoria Deloitte chama de “dividendo da longevidade”. Ou seja, a produtividade econômica dos trabalhadores mais velhos atinge níveis superiores aos anteriores registrados.

Na Alemanha, manter os trabalhadores mais velhos no emprego é uma questão de estabilidade econômica nacional. Mais de 21% da população alemã tem mais de 65 anos.

De acordo com a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, face os avanços na saúde e o aumento da expectativa de vida, espera-se que um alemão de 65 anos viva, em média, ainda mais 20 anos. No entanto, devido à natureza fisicamente exigente da indústria transformadora alemã, manter os trabalhadores nas fábricas até a aposentadoria é um grande desafio.

Cientes desta ameaça, algumas empresas já promovem as adequações necessárias e adaptam suas plantas industriais para criar espaço para os trabalhadores mais velhos e assim mantê-los ativos. Por exemplo, na fábrica da Porsche em Leipzig, implementaram medidas ergonômicas e novos jornadas de trabalho para o conforto e preservação do trabalhador maturi. Normalmente operam em turnos de uma hora e giram de estação em estação ao longo do dia.

“A rotação entre as diferentes etapas de fabricação ajuda a evitar tensões. Além disso, ajustes de processos e componentes, limites de força, espaços de trabalho com altura ajustável, dispositivos de manuseio e sistemas de suporte, evitam a sobrecarga física”, diz Alissa Frey, especialista em ergonomia da Porsche em Leipzig.

O aumento da longevidade é uma ameaça ou uma vantagem?

Agora, se o aumento da longevidade é uma ameaça ou uma vantagem para uma nação, tudo vai depender de como as sociedades se prepararão para os desafios colocados pelo envelhecimento, e de quão hábeis serão a identificar e maximizar os benefícios que a vida longeva traz.

“Os baby-boomers representam uma nova geração”, diz Coughlin. “Embora já não sejam jovens, se sentem jovens. Não só esperam, como em muitos casos exigem novos produtos, novos serviços e novas experiências, para tornar cada etapa da vida, se não todos os dias, cada vez melhor.

De nossa parte, nós, os sêniores, deixamos claro que estamos cientes do valor do nosso poder de consumo, e de produção de valor, ao equilíbrio econômico de nosso país.

Estamos dispostos a trabalhar com o setor empresarial, líderes e formuladores de políticas públicas, a fim de que conceitos errôneos sobre o envelhecimento sejam desfeitos, e sejam ressaltados os valores que os brasileiros mais velhos trazem à nossa economia.

Juntos, poderemos forjar um caminho que nos permita aprimorar e expandir o novo paradigma da Economia da Longevidade, e assim garantir um futuro de muitas vantagens para o nosso mundo maturi.

Mãos à obra!